A 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia tem como fio condutor o tema “Planeta Água: a cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território.” A escolha ressalta a importância de reconhecer o oceano como parte vital da nossa existência, não apenas por cobrir a maior parte da superfície do planeta, mas também por regular o clima, sustentar a biodiversidade, impulsionar economias e aproximar diferentes povos e culturas. A cultura oceânica nos lembra que não há fronteiras entre mar e terra: todos os sistemas estão interconectados, e nossas decisões cotidianas têm impacto direto sobre esse equilíbrio.
Em 2025, a reflexão ganha ainda mais relevância diante de marcos globais importantes, como a Década da Ciência Oceânica, a terceira Conferência da ONU para o Oceano, na França, e a realização da COP30, em Belém, evento histórico que colocará o Brasil no centro do debate climático internacional.
Nesse contexto, a Fiocruz reforça sua contribuição na promoção da ciência, saúde integral e meio ambiente. Assim como o oceano é essencial para a vida no planeta, a saúde humana depende de ecossistemas equilibrados e de uma visão integrada sobre os impactos das mudanças climáticas. Ao promover pesquisas e ações que conectam território, sustentabilidade e bem-estar, a instituição reafirma seu papel estratégico na construção de futuros mais saudáveis para pessoas e para o planeta.
Todos os seres vivos, incluindo as pessoas, precisam de água, alimento e outros recursos do ambiente para sobreviver. Os ambientes naturais renovam esses recursos constantemente. Durante sua vida, animais, plantas, fungos, algas, bactérias e outros microrganismos mantêm o “funcionamento da natureza”. Plantas e outros seres vivos produzem gás oxigênio, conservam o solo, regulam o clima e o ciclo das chuvas, por exemplo. Muitos autores comparam esses processos a “serviços” essenciais dos quais dependemos para sobreviver.
A destruição dos ambientes naturais interrompe os “serviços” ambientais, causando consequências que se estendem por grandes regiões do país e do mundo. Os impactos sobre o clima incluem secas severas, períodos de chuvas intensas, alagamentos e alterações na temperatura média. Muitas vezes, esses impactos são mais intensos em países e comunidades pobres, com menor condição de lidar com catástrofes.
A destruição dos ambientes naturais ameaça também as populações tradicionais que vivem nessas áreas. A construção de grandes obras de infraestrutura, a expansão de áreas agrícolas e de mineração e afetam diretamente a subsistência dessas populações. Além disso, muitas comunidades lutam pelo reconhecimento do direito ao seu território. Como resultado, dezenas de línguas podem desaparecer, levando consigo conhecimentos sobre a biodiversidade e um patrimônio cultural incalculável.
A destruição dos ambientes naturais ameaça também as populações tradicionais que vivem nessas áreas. A construção de grandes obras de infraestrutura, a expansão de áreas agrícolas e de mineração e afetam diretamente a subsistência dessas populações. Além disso, muitas comunidades lutam pelo reconhecimento do direito ao seu território. Como resultado, dezenas de línguas podem desaparecer, levando consigo conhecimentos sobre a biodiversidade e um patrimônio cultural incalculável.
De acordo com dados do IBGE, cerca de 212 milhões de pessoas vivem no Brasil hoje. A maior parte delas está nas cidades. Juntas, todas as cidades do país ocupam apenas 0,5% do território. Porém, o impacto causado pelas cidades vai muito além das suas fronteiras. Para abastecer as cidades e exportar produtos, muitas outras áreas são dedicadas à agropecuária, usando agrotóxicos, fertilizantes e grandes quantidades de água. As cidades recebem energia, água potável e materiais retirados dos ambientes naturais. Também produzem lixo e poluentes que contaminam o solo, a água e o ar.
Em busca por outro modelo de desenvolvimento, há um crescente interesse da ciência em conhecer os saberes e práticas dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Diversos estudos indicam que o modo de vida dessas populações contribui para a conservação da biodiversidade e a manutenção dos “serviços” ambientais.
Dados da organização MapBiomas mostram que as terras indígenas perderam menos de 1% de sua cobertura vegetal nos últimos 39 anos. Como comparação, áreas privadas ou com CAR (Cadastro Ambiental Rural) sem registro fundiário perderam 28%.
A obra Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil – Contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças, organizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) revela que, de modo geral, o desmatamento em terras indígenas e territórios quilombolas é menor do que nas áreas de entorno. Em outras palavras, os territórios tradicionalmente ocupados por essas populações atuam como barreiras ao desmatamento na Floresta Amazônica, no Cerrado, na Caatinga e na Mata Atlântica.
Ao longo de várias gerações, tais comunidades adquiriram profundos conhecimentos sobre os ecossistemas que habitam. Seu modo de vida baseado em técnicas sustentáveis de agroecologia e manejo dos recursos naturais combina a obtenção de alimentos com preservação ambiental. Além disso, são repositórios de conhecimentos sobre a fauna e a flora, incluindo usos medicinais de plantas. Em 1992, Convenção da Biodiversidade Biológica (CDB) destacou a importância das comunidades tradicionais para a sustentabilidade.
Cada vez mais, os conhecimentos tradicionais têm sido reconhecidos e valorizados pelos pesquisadores. A integração entre conhecimentos científicos e tradicionais é uma estratégia poderosa para o enfrentamento dos desafios ambientais globais e na elaboração de políticas públicas de conservação dos biomas brasileiros.
Agência IBGE de notícias. IBGE define bioma predominante em cada município brasileiro para fins estatísticos. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/40519-ibge-define-bioma-predominante-em-cada-municipio-brasileiro-para-fins-estatisticos. Acesso em: 9 set. 2024.
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MapBiomas. Coleção 9. Mapeamento anual de cobertura e uso da terra no Brasil de 1985 a 2023. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/wp-content/uploads/sites/4/2024/08/Fact_Colecao-9_21.08-OK.pdf. Acesso em: 9 set. 2024.
Cunha, Manuela Carneiro da; Magalhães, Sônia Barbosa; Adams, Cristina (Orgs.). Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil: contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças. Parte 1 – Seção 1: Quem são, quantos são. São Paulo: SBPC, 2022. Disponível em: https://portal.sbpcnet.org.br/livro/povostradicionais1.pdf. Acesso em: 9 set. 2024.
Cunha, Manuela Carneiro da; Magalhães, Sônia Barbosa; Adams, Cristina (Orgs.). Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil: contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças. Parte II – Seção 5: Os territórios indígenas e tradicionais protegem a biodiversidade? São Paulo: SBPC, 2021. Disponível em: https://portal.sbpcnet.org.br/livro/povostradicionais5.pdf. Acesso em: 9 set. 2024.
Embrapa. Serviços ambientais. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-servicos-ambientais/sobre-o-tema. Acesso em: 9 set. 2024.